Eugene Boundin
A sessão de perguntas abertas foi muito positiva e desejei tê-la feito mais cedo, mas também penso que foi importante eles terem sentido que nas aulas de FpC existe abertura para questionar, sem terem de se preocupar em serem julgados. Assim, colocaram as questões que mais querem ver respondidas, sendo de realçar a curiosidade sobre o mundo e o o seu início.
Aqui ficam as perguntas:
- Os homens das cavernas faziam a roupa com peles de animais?
- Como a lava chegou ao planeta terra?
- Porque é que a vida começou com os micróbios?
- Qual será a última pessoa a morrer?
- Como foi criada a eletricidade?
- Porque é que alguns dinossauros tinham penas?
Todas questões que não são debatidas nas aulas, a matéria é dada sem que eles tenham oportunidade de aprofundar os temas. A curiosidade está lá, é só aproveitar aquilo que é tão natural nas crianças para que a pesquisa e o espírito de procura se desenvolva.
domingo, 13 de abril de 2014
domingo, 23 de março de 2014
Eugene Boudin
Na história deste dia, mais uma vez retirada do livro Kiko e Gui, o pai da Gui tenta explicar-lhe a através dos sentidos como ela é bonita e diz que ela é preciosa.
O diálogo segue à volta do conceito do que é precioso, eles vão dando exemplos: brilha, é valioso, é um tesouro.
Tento aprofundar o texto e lanço uma questão provocadora: uma pessoa que não é bonita pode ser preciosa?
- Pode se não for má - D
- Os pais gostam sempre dos filhos - N
- Pode ser bonito por dentro - M
O que é ser bonito por dentro? pergunto
- Ser bonito por dentro é ter bom coração, ser amigo, não fazer mal a ninguém- G e D
- Ajudar os outros - T
- Pode ser feio por dentro? D
- O que é ser feio por dentro? pergunto
- Fazer mal, por exemplo: as pessoas estão em perigo e não ajudam - D (começam a dar exemplos mesmo sem eu pedir)
- Bater nos colegas - T
- Ser mal educado e não fazer paz - E (relacionam a paz)
- De que cor é um coração bom? Pergunto
As resposta variam, mas optam sempre por cores claras e alegres: Vermelho, verde, azul claro...
- De que cor é um coração feio? pergunto
As resposta vão todas para as cores escuras: preto, roxo, cinzento, castanho...
dizem ainda: a amizade é verde e o medo é preto, muito escuro.
Foi uma aula animada, associar cores aos sentimentos foi valioso para que eles compreenderem como se pode ajudar a Gui e como forma de abrirem o seu leque de hipóteses e de ver o mundo.
domingo, 9 de março de 2014
A diferença
Pieter Brugel
A propósito do livro Kiko e Gui, e explorando o facto da Gui ser cega, coloquei uma questão directamente. Normalmente gosto que sejam eles a indicar qual o tema a seguir, mas como ainda estávamos no início penso que o estimular o debate com perguntas os levaria mais depressa a aprofundar o diálogo.
Pergunta: Acham que um menino cego pode brincar?
Respostas:
- Não, porque não vê - T
- Não pode ver os brinquedos - C
- Se ajudarmos pode - B
- Se tiver óculos pode - G
Fazemos o jogo do telefone estragado (uma palavra que passa pelo grupo segredada ao ouvido)
Pergunto: Este jogo a Gui podia jogar?
- Sim - B e M
- À apanhada não podia - B
- Podia ouvir o som dos animais - R
- O jogo da batata quente - G
- O jogo das adivinhas e anedotas - C
...
Foi interessante porque as crianças que inicialmente achavam que a Gui não podia brincar, mudaram de ideias e o grupo passou a considerar que havia brincadeiras para a Gui. Este é o início da comunidade de investigação, quando por meio das diferentes opiniões os alunos corrigem a sua crença inicial.
domingo, 2 de março de 2014
P. Bonnard
A motivação é sempre um elemento importante para quem trabalha com crianças, pois o aborrecimento deles traduz-se em conversas laterais, olhares dispersos e num encolher de ombros alheio ao que se está a passar à volta. Claro que cada criança reage à sua maneira, mas quem trabalha com Filosofia para Crianças, tem de estar atenta a este factor, já que a criança é o principal protagonista do seu processo de aprendizagem, ele é o fim de toda a educação.
"O que verdadeiramente importa é a pessoa que aprende, e não tanto o que aprende. As matérias curriculares devem estar ao serviço do estudante e não vice-versa. Através destas matérias curriculares (entre outros factores importantíssimos) o estudante cresce, desenvolve as suas potencialidades, faz-se pessoa e é capaz de construir novos materiais curriculares adaptados à nova sociedade onde vive" (Calvo, J. M.).
Tendo em conta este factor iniciei a 3ª sessão aproveitando um assunto do interesse de todos, a história da cadela Lucky, que foi abandonada e andava perdida e doente pelas ruas e a professora recolheu-a, tratou dela e deu-lhe muito afecto. Hoje é uma cadela bonita e feliz que vive num lar acolhedor. Neste dia esta história foi o meu material curricular:
Pergunto: O que significa Lucky e eles explicam-me, significa ser sortuda. A Lucky anda sempre atrás da professora porque tem medo de a perder, a professora dá mimos, trata-a bem e dá-lhe comida.
Pergunto: O que é ter sorte?
Respostas:
"Dão-nos coisas que pedimos." G.
"Dão-nos coisas que não estamos à espera." B.
"Ganhar num jogo". C.
"Ganhar jogos é ter sorte" T. (o aluno faz uma ilação a partir do diálogo mantido)
"Temos de jogar e ganhar". G. (conclui o raciocínio)
"Temos de evitar que as coisas más aconteçam" B. (dá outra dimensão ao diálogo)
Pergunto: E como se faz isso?
"Fazendo com que não fiquemos de castigo" G.
Nisto um acontecimento imprevisível acontece na sala de aula, um aluno mata uma formiga que apareceu. Comentamos o azar da formiga:
"Ela mordeu-me e eu matei-a" G.
"Número 13 na terra das formigas" B.
Pergunto. "Porquê de ter azar?"
"Fizemos coisas de mal, batemos em alguém ou roubamos" B.
"Ficar sem dinheiro" R.
"Assaltar uma casa e roubar" - C.
"Ter acidentes"
"Há pessoas com mais azar o que outras"
Pedi se alguém podia explicar:
"Quem tem mais cuidado não tem tanto azar" C.
"Não se protegem dos ladrões"G
"Enganar-nos é ter azar" D
"Cair e ir para o Hospital"
Pergunto: "isso é ter azar ou falta de cuidado?" (esta pergunta não tem grande desenvolvimento)
"Não conhecemos as coisas que nos podem dar azar" D
Pergunto: Porque é que coisas más acontecem a pessoas boas?
"As pessoas más às vezes têm mais sorte do que as pessoas boas"D.
"As pessoas fazem a sua sorte"
"Uma vez um mano do pai fez um cavalinho na moto e morreu" L.
Pergunto: "Porque é que o tio da L. morreu?"
"Porque não teve cuidado" respondem vários
Fazem uma distinção entre o que é ter azar e não ter cuidado. Habilidade de raciocínio começa a ser evidente.
sábado, 15 de fevereiro de 2014
Os sentidos
Quadro de Pierre Bonnard
A 2ª sessão não correu propriamente como eu queria, as questões surgiram a custo e pareciam morrer logo ali na praia. A história que li revelava que que a melhor amiga do Kiko era cega. Este assunto despertou a atenção dos alunos, dizem:
- Eu vejo os meus braços, mas a Gui não consegue ver nada.
Pergunto se eles são todos diferentes uns dos outros. Respondem que sim!
- somos diferentes e fazemos coisas diferentes.
Pergunto: que coisas diferentes fazem ?
- Vestir
-Tomar banho
- Eu corro rápido
A verdade é que a conversa não desenvolvia, ia apenas pelo caminho da simples descrição e não havia reflexão. Em todo o caso, são crianças de 6 anos e é bom que se apercebam das pequenas diferenças que compõem a sua identidade, da individualidade de cada um. Tento estimular a reflexão?
Pergunto: Se a Gui estivesse aqui com vocês, o que é que faziam com ela?
- Ia ajudá-la
- Ajudava-a a jogar à bola
- Ajudava-a a pintar
- a fazer os trabalhos..
.....e por aí fora...
Para terminar e em modo de conclusão, pergunto: É importante ajudarmos-nos uns aos outros?
Todos respondem que sim!
-
sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014
Curiosamente li a mesma história no 2º grupo e o tema foi diferente, este grupo não se interessou pala casa assombrada, mas antes preferiram falar de animais. Percebi que este tema lhes é muito grato, adoram falar de animais. Fiz algumas perguntas, para que se começassem também eles a familiarizar com o perguntar, o questionar, assim perguntei-lhes se eles gostavam de animais, com quais podiam brincar, e se gostavam de todos os
animais por igual, ou mais de uns do que de outros?
As respostas fora:
As respostas fora:
- Gostamos mais dos animais fofinhos; Alguns são maus e outros são bons ; Eu gosto de todos; Eu gosto do meu galo porque ele é calmo; Alguns dão miminhos; São queridos, são meigos.
Depois perguntei, estimulando a comparação: Também gostam das pessoas
que sejam assim? Todos responderam que sim. Por fim pedi que imitassem o seu animal favorito.
Estamos todos no início, eles tentam perceber o que se pretende nas aulas de FpC e eu estudo-me e tento posicionar-me de acordo com as características do grupo e de cada um.
1ª sessão
Xu-Beihong
Na 1ª história que li, o Kiko,personagem do livro fala da quinta onde está a passar férias, da amiga Gui, dos animais que lá vivem, dos avós e de uma casa assombrada da qual tem medo.
Quando iniciei i debate, no 1º grupo, perguntei qual o tema da história que mais interesse tinha suscitado, fomos a votos e ganhou....a casa assombrada! Fiquei deveras atrapalhada, pensei "e agora, como guio uma sessão destas?": "O que me havia de acontecer", mas lá iniciei o diálogo, deixo aqui um excerto:
- As casas assombradas têm tudo partido.
-É assombrada porque as portas e janelas mexem.
- Eu sei o que é uma casa assombrada. Tem lixo e é escura.
- As casas assombradas são de brincadeira.
E por aqui fora, e eu pensei, mas isto não parece filosofia, ou é? Depois de mais umas quantas descrições, lá fui introduzindo questões para centrar o diálogo, tentar abordar o medo, o que é o medo, porque sentimos medo, mas não....eles simplesmente queriam falar de casas assombradas, eu relaxei e deixei-os falar, falar, porque era disso que eles estavam a precisar.
domingo, 9 de fevereiro de 2014
O início
quadro de Hso pei hung
No início da comunidade de investigação dividi a turma em dois, de forma a ter um círculo mais pequeno, ficando com 2 grupos de 12. É aconselhável que assim seja, já que facilita o diálogo e a participação de todos. Para o facilitador de FpC, um grupo pequeno também ajuda, já que assim, é mais fácil cuidar que todos participam, ouvir, motivar e incentivar a participação o grupo e de cada um em particular.
Comecei por utilizar o livro de Matthew Lipman, Kiko e Gui, pois para além de ser o mais adequado para a faixa etária dos alunos, na altura 6 anos, aborda situações que causam interesse e suscitam curiosidade, levando as crianças a questionar e a comparar a situações do livro com a sua própria experiência. Na Filosofia para Crianças, a experiência de cada um não são experiências isoladas, fazem parte de uma rede de relações, onde se partilham experiências, permitindo conhecer diferentes perspectivas, que vão enriquecer a oportunidade de resposta perante situações diversas.
"Philosophy for Children no es, pues, un método pedagógico para explicar filosofía, no es un conjunto de normas para hacer filosofía, sino que esel mismo una actividad filosófica" (Carreras, Carla: 2011).
Passemos então à actividade, irei transcrever alguns diálogos.
sábado, 8 de fevereiro de 2014
Matthew Lipman
A proposta pedagógica de Lipman consiste em substituir uma 'educação para aprender' por uma 'educação para pensar'. O mundo - dizia Lipman - não se pode dar ao luxo de propor o actual nível de irracionalidade como modelo para as gerações futuras. A educação não conseguia o seu objectivo de preparar as crianças para a vida: para tomar decisões, para dar opiniões com critério, para actuar adequadamente e autonomamente.
O método, que Lipman criou, para que a filosofia tivesse uma aplicação pratica na sala de aula, foi a comunidade de investigação, que permite a procura de significado das experiências em conjunto, em grupo. "Descobrir o sentido significa descobrir a relação entre as coisas que se ensinam, entre as nossas experiências, entre nós e os outros" (Carreras, Carla: 2011).
Começo este blog porque quero dar a conhecer a Filosofia para Crianças.
Desde que tive conhecimento desta metodologia não mais a esqueci, acredito que é uma das ferramentas pedagógicas mais adequadas para desenvolver o pensamento das crianças.
O seu fundador Matthew Lipman, criou uma série de novelas adptadas às idades das crianças que permitem o debate e a reflexão de ideias, acontecimentos, crenças e opiniões, levando as crianças a desenvolver o pensamento multidimensional, que é composto pelo pensamento critico, criativo e cuidadoso.
Mais mais do que explicar quero partilhar minha experiencia e a das crianças com que trabalho. Uma vez por semana aplico esta ferramente numa turma que acompanho desde o 1º ano de escolaridade. É a evolução das crianças e a minha própia evolução enquanto facilitadora, que quero partilhar.
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